14 de fevereiro de 2016

Cristo Rei: Quando o poder é cruz, a cruz é amor, o amor é liberdade

Neste último domingo do ano litúrgico, celebramos a solenidade de Cristo Rei do universo. E o Evangelho de hoje faz-nos contemplar Jesus enquanto se apresenta a Pilatos como rei de um reino que não é deste mundo.

Isto não significa que Cristo seja rei de um outro mundo, mas que é rei de um outro modo. Mas é Rei neste mundo! Trata-se de uma contraposição entre duas lógicas. A lógica mundana apoia-se na ambição e na competição, combate com as armas do medo, da chantagem e da manipulação das consciências.

A lógica do Evangelho, de Jesus, ao contrário, exprime-se na humildade e na gratuitidade, afirma-se silenciosa mas eficazmente com a força da verdade. Os reinos deste mundo regem-se por vezes sobre prepotências, rivalidades, opressões; o reino de Cristo é um 
reino de justiça, de amor e de paz.

Jesus revelou-se rei... Quando? No acontecimento da cruz. Quem olha a cruz de Cristo não pode não ver a surpreendente gratuitidade do amor. (...) Falar de poder e de força, para o cristão, significa fazer referência ao poder da cruz e à força do amor de Jesus: um amor que permanece sólido e íntegro, mesmo diante da recusa, e que aparece como o cumprimento de uma vida gasta na total oferta de si em favor da humanidade.

No Calvário, quem passava e os chefes insultam Jesus pregado na cruz, e lançam-lhe o desafio: «Salva-te a ti mesmo descendo da cruz». Mas, paradoxalmente, a verdade de Jesus é precisamente aquele que em tom de escárnio lhe atiram à cara os seus adversários: «Não pode salvar-se a si próprio».

Se Jesus tivesse descido da cruz, teria cedido à tentação do príncipe deste mundo; em vez disso, Ele não se pode salvar a si mesmo para poder salvar os outros (...), para poder salvar cada um de nós dos nossos pecados.

E isto, quem o compreendeu? Compreendeu-o um dos dois malfeitores que são crucificados com Ele, chamado o "bom ladrão", que lhe suplica: «Jesus, recorda-te de mim quando entrares no teu reino» (...).

A força do reino de Cristo é o amor: por isso a realeza de Jesus não nos oprime, mas liberta-nos das nossas fragilidades e misérias, encorajando-nos a percorrer o caminho do bem, da reconciliação e do perdão. (...)

Diante das muitas lacerações no mundo e às demasiadas feridas na carne dos homens, peçamos à Virgem Maria de nos sustentar-nos no nosso compromisso de imitar Jesus, nosso rei, tornando presente o seu reino com gestos de ternura, de compreensão e de misericórdia.

Papa Francisco 
"Angelus", Vaticano, 22.11.2015 
Trad.: Rui Jorge Martins 

Publicado em 22.11.2015