14 de setembro de 2015

Domingo XXV do Tempo Comum


                                                «E vós, quem dizeis que Eu sou?»


A liturgia do 24.º Domingo do Tempo Comum diz-nos que o caminho da realização plena do homem passa pela obediência aos projectos de Deus e pelo dom total da vida aos irmãos. Ao contrário do que o mundo pensa, esse caminho não conduz ao fracasso, mas à vida verdadeira, à realização plena do homem.

A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar a Palavra da salvação e que, para cumprir essa missão, enfrenta a perseguição, a tortura, a morte. Contudo, o profeta está consciente de que a sua vida não foi um fracasso: quem confia no Senhor e procura viver na fidelidade ao seu projecto, triunfará sobre a perseguição e a morte. Os primeiros cristãos viram neste “servo de Deus” a figura de Jesus. O “Servo” sofredor que põe a sua vida, integralmente, ao serviço do projecto de Deus e da salvação dos homens mostra-nos o caminho: a vida, quando é posta ao serviço da libertação dos pobres e dos oprimidos, não é perdida mesmo que pareça, em termos humanos, fracassada e sem sentido.

A segunda leitura lembra aos crentes que o seguimento de Jesus não se concretiza com belas palavras ou com teorias muito bem elaboradas, mas com gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, de solidariedade para com os irmãos. Assim, quem segue a Cristo tem de lutar, objectivamente, contra as estruturas que geram injustiça e opressão; tem de acolher e amar aqueles que a sociedade marginaliza e rejeita; tem de denunciar uma sociedade construída sobre esquemas de egoísmo e de mostrar, com o seu testemunho, que só a partilha e o amor tornam o homem feliz; tem de quebrar a espiral da violência e do ódio e propor a tolerância e o amor.

No Evangelho, Jesus é apresentado como o Messias libertador, enviado ao mundo pelo Pai para oferecer aos homens o caminho da salvação e da vida plena. Cumprindo o plano do Pai, Jesus mostra aos discípulos que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas pelo amor e pelo dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo, tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.

“E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para o seguir.



                     Liturgia da Palavra do Domingo XXV do Tempo Comum

I Leitura                                 Is 50, 5-9a

«Apresentei as costas àqueles que me batiam»

Esta leitura do Antigo Testamento fala-nos de uma personagem a que a Sagrada Escritura dá o nome de “Servo do Senhor”. Apresenta-se como alguém obediente a Deus, sujeito a muitas humilhações, mas sempre confiante no Senhor, e que, por fim, Deus exaltará na glória. É a figura típica de Jesus na sua Paixão, obediente até à morte na Cruz, exaltado na glória da Ressurreição, como o Evangelho O vai apresentar.


Salmo   114 (116)

Caminharei na terra dos vivos na presença do Senhor.


II Leitura:                             Tg 2, 14-18

«A fé sem obras está morta»

A pregação de S. Tiago é muito concreta. A fé vive-se na prática da vida de cada dia, sobretudo nas relações com o próximo, que hão-de ter sempre a caridade como fundamento. A fé supõe a aceitação total da palavra de Deus, no pensar, no querer, no agir. Acreditar não é apenas admitir com a inteligência a verdade que a Igreja ensina, mas viver, em toda a vida, dessa mesma verdade. Doutro modo, a fé estaria morta, e a fé é um princípio de vida.


Aclamação ao Evangelho                   Gal 6, 14

Toda a minha glória está na cruz do Senhor,
por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.


Evangelho                             Mc 8, 27-35

«Tu és o Messias... O Filho do homem tem de sofrer muito»

Jesus anuncia, pela primeira vez, a sua Paixão, depois de Pedro ter feito um acto de fé na sua missão de Messias. Ao ouvir falar da Paixão Pedro escandaliza-se. Não consegue ligar as ideias de Messias com a do sofrimento, muito menos com a da Morte. Não tinha ainda compreendido as palavras sobre o “Servo de Deus” sofredor de que fala a primeira leitura.
              

  Reflexão 

O que é “renunciar a si mesmo”? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a auto-suficiência dominem a vida. O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.

O que é “tomar a cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos.