«E vós, quem dizeis que Eu sou?»
A liturgia do 24.º Domingo do Tempo Comum diz-nos que o
caminho da realização plena do homem passa pela obediência aos projectos de Deus
e pelo dom total da vida aos irmãos. Ao contrário do que o mundo pensa, esse
caminho não conduz ao fracasso, mas à vida verdadeira, à realização plena do
homem.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo,
chamado por Deus a testemunhar a Palavra da salvação e que, para cumprir essa
missão, enfrenta a perseguição, a tortura, a morte. Contudo, o profeta está
consciente de que a sua vida não foi um fracasso: quem confia no Senhor e
procura viver na fidelidade ao seu projecto, triunfará sobre a perseguição e a
morte. Os primeiros cristãos viram neste “servo de Deus” a figura de Jesus.
O “Servo” sofredor que põe a sua vida, integralmente,
ao serviço do projecto de Deus e da salvação dos homens mostra-nos o caminho: a
vida, quando é posta ao serviço da libertação dos pobres e dos oprimidos, não é
perdida mesmo que pareça, em termos humanos, fracassada e sem sentido.
A segunda leitura lembra aos crentes que o seguimento
de Jesus não se concretiza com belas palavras ou com teorias muito bem
elaboradas, mas com gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, de
solidariedade para com os irmãos. Assim, quem segue a Cristo tem de lutar, objectivamente,
contra as estruturas que geram injustiça e opressão; tem de acolher e amar
aqueles que a sociedade marginaliza e rejeita; tem de denunciar uma sociedade
construída sobre esquemas de egoísmo e de mostrar, com o seu testemunho, que só
a partilha e o amor tornam o homem feliz; tem de quebrar a espiral da violência
e do ódio e propor a tolerância e o amor.
No Evangelho, Jesus é apresentado como o Messias
libertador, enviado ao mundo pelo Pai para oferecer aos homens o caminho da
salvação e da vida plena. Cumprindo o plano do Pai, Jesus mostra aos discípulos
que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas
pelo amor e pelo dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai
percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo, tem de aceitar
percorrer um caminho semelhante.
“E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que
deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração.
Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na
nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus
valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos
para o seguir.
Liturgia da Palavra do Domingo XXV do Tempo Comum
I Leitura Is
50, 5-9a
«Apresentei
as costas àqueles que me batiam»
Esta
leitura do Antigo Testamento fala-nos de uma personagem a que a Sagrada
Escritura dá o nome de “Servo do Senhor”. Apresenta-se como alguém obediente a
Deus, sujeito a muitas humilhações, mas sempre confiante no Senhor, e que, por
fim, Deus exaltará na glória. É a figura típica de Jesus na sua Paixão,
obediente até à morte na Cruz, exaltado na glória da Ressurreição, como o
Evangelho O vai apresentar.
Salmo 114 (116)
Caminharei na terra dos vivos na presença do Senhor.
II
Leitura: Tg 2, 14-18
«A fé sem obras está morta»
A pregação de S. Tiago é muito concreta. A fé vive-se na
prática da vida de cada dia, sobretudo nas relações com o próximo, que hão-de
ter sempre a caridade como fundamento. A fé supõe a aceitação total da palavra
de Deus, no pensar, no querer, no agir. Acreditar não é apenas admitir com a
inteligência a verdade que a Igreja ensina, mas viver, em toda a vida, dessa
mesma verdade. Doutro modo, a fé estaria morta, e a fé é um princípio de vida.
Aclamação
ao Evangelho Gal 6, 14
Toda a minha glória está na cruz do Senhor,
por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.
Evangelho Mc 8, 27-35
«Tu és o Messias... O Filho do homem tem de sofrer
muito»
Jesus anuncia, pela primeira vez, a sua Paixão, depois
de Pedro ter feito um acto de fé na sua missão de Messias. Ao ouvir falar da
Paixão Pedro escandaliza-se. Não consegue ligar as ideias de Messias com a do
sofrimento, muito menos com a da Morte. Não tinha ainda compreendido as
palavras sobre o “Servo de Deus” sofredor de que fala a primeira leitura.
Reflexão
O que é “renunciar a si mesmo”? É não deixar que o
egoísmo, o orgulho, o comodismo, a auto-suficiência dominem a vida. O seguidor
de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar para si mesmo, indiferente
aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos,
alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na
solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.
O que é “tomar a cruz”? É amar até às últimas
consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a
dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso,
o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o
pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias
dos poderosos.