28 de fevereiro de 2016

Há mais alegria em dar (-se) (At 20,35)!


Felizes os misericordiosos (Mt 5,7)!


Caminhada de Advento – Natal – 2015-2016





Palavra de Abertura


“Queremos uma Igreja que faça experiência da misericórdia de Deus e que a traduza em toda a sua vida” (Plano Diocesano de Pastoral – PDP -  2015-2020, pág. 30).

Inspirada neste sonho e alicerçada nesta vontade, pretende-se com esta Caminhada de Advento – Natal de 2015-2016, a exemplo do que fizemos no ano passado, unir, congregar e mobilizar toda a comunidade diocesana, dando assim seguimento ao fortalecimento da pastoral da comunhão e ao caminho sinodal que desejamos para a nossa Diocese.

É uma proposta de vivência semanal do “tempo favorável” que Deus nos oferece para preparar e celebrar o nascimento de Jesus. Guia-nos nesta proposta o lema deste Ano Pastoral: “A Alegria do Evangelho é a nossa missão: felizes os misericordiosos”.

Pensada à luz da estrela que brilha em cada Natal e envolvida pela ternura, pela bondade e pela misericórdia de Deus que nos envia o Seu Filho nascido de Maria, esta Caminhada ajudará, assim, as famílias e as comunidades da nossa Diocese:

. a descobrir a condição alegre e feliz da nossa identidade cristã (PDP, pág. 35);

. a ser uma Igreja decidida a construir a fraternidade, mediante a partilha de dons, com  uma atenção privilegiada aos mais pobres e frágeis da sociedade (PDP, pág. 29);

. a promover uma educação ecológica, uma cultura de respeito pelos bens da Criação e uma vida sóbria e simples em cada pessoa, família e comunidade (PDP, pág. 19);

. a traduzir nos sentimentos, nos gestos e nas atitudes o “rosto” acolhedor e missionário da Igreja do Porto, Mãe de bondade, de ternura e de misericórdia, a exemplo de Maria, Mãe de Jesus.

O Natal possui o fascínio e tem a missão de nos fazer concretizar o sonho de Deus para a Humanidade, celebrado, vivido e contemplado no mistério da encarnação de Jesus, Filho de Deus.

Não podemos guardar esta Alegria – a Alegria do Evangelho do Natal – só para nós. Somos convidados a preparar com todos os vizinhos ou os estranhos, os “caminhos do Senhor” e a acolher o mistério do Natal no presépio do coração humano.

Como dom oferecido a toda a Humanidade, este mistério do Natal tem de concretizar-se em obras de misericórdia e em gestos de fraternidade, que levem a alegria do Evangelho a todas as periferias do mundo. Comecemos pelas famílias, grupos paroquiais, movimentos apostólicos e comunidades, este anúncio partilhado da Alegria do Natal. Iniciemos, aí, este caminho ao encontro de Jesus e em busca de proximidade e de fraternidade com os mais pobres e com os mais simples.

Enchamos em cada semana o “cesto” dos nossos dons para que eles se transformem em “cabaz” de generosidade, em “manjedoura” que acolhe e abriga a vida e em “sinal vivo” da misericórdia e da salvação de Deus para todos.

 Ninguém é indiferente ao Natal, mesmo que não tenha fé! Pertence-nos, como cristãos, fazer do Natal de Jesus dom de Deus para as famílias, comunidades, serviços, secretariados diocesanos e instituições da Igreja e do Mundo.

A Caminhada, que agora propomos, não se destina apenas ao percurso catequético, aos grupos de jovens, ou às celebrações dominicais mas a toda a Comunidade e a cada Família. Dirige-se a toda a Diocese e a cada um dos diocesanos do Porto. A todos deve envolver, integrar, acolher e mobilizar.

Leva-nos esta Caminhada de Advento – Natal ao encontro de Jesus, para que, a partir deste encontro, como aconteceu com Maria e José, com os anjos de Deus, com os pastores, com os magos e com tantos discípulos missionários de todos os tempos saibamos fazer da “Alegria do Evangelho a nossa missão” e proclamar com a palavra e com as obras: “Felizes os misericordiosos!”

 Porto, 28 de outubro de 2015

  António Francisco dos Santos
 António Taipa
 João Lavrador
Pio Alves



1. Sentido da caminhada: do cabaz à manjedoura


Do cabaz de Natal…

O cabaz de Natal, um cesto de vime, recheado e decorado, faz parte das nossas tradições natalícias e é um símbolo da partilha e da “onda de solidariedade” que este acontecimento desperta nos crentes e em todos os homens e mulheres de boa vontade.

Hoje em dia é muito utilizado como forma de agradecer a presença de alguém ao longo do ano, a companhia e a amizade dos colegas de trabalho, ou ainda como expressão de agradecimento pelo bom desempenho dos colaboradores de uma empresa ou instituição.

Mas o cabaz é sobretudo um dos símbolos mais eloquentes do Natal e um dos gestos solidários mais significativos, com os mais pobres e frágeis da terra.

…passando pelo cabaz da Bíblia…

Podemos ir um pouco mais longe e tomar o cabaz, a partir da simbologia bíblica associada ao cesto e à cesta. Este símbolo pode reportar-nos ao cesto em que Moisés, filho de hebreus, o menino que chorava, é salvo das águas (Ex 2,1-10) pela filha do faraó e, deste modo, pode tornar-se sinal de proteção e salvação.

E pode lembrar-nos ainda o cesto em que os judeus colocavam as primícias de todos os frutos da terra, que ofereciam no altar ao Sumo Sacerdote (Dt 26,1-10), tornando-se expressão da gratidão para com o Criador de todas as coisas.

Para o povo bíblico, o fim da opressão no Egito é simbolizado pelo salmista com esta afirmação: “aliviei os seus ombros do fardo, as suas mãos livraram-se de carregar o cesto” (Sal 81,7). Podemos ver neste “aliviar do cesto” um sinal da justiça e da libertação, operada por Deus na história, com a grande epopeia do êxodo.

A “cesta de frutos maduros” (Am 8,1-2) é também um dos símbolos proféticos, que anuncia e denuncia o tempo maduro, para Deus intervir na história, tornando-se a voz do clamor do povo eleito, que chega até Deus (Ex 3,7).

No livro de Jeremias, “a cesta com figos bons e maus” faz dos “figos bons” a imagem do “resto de Israel”, daquela porção do povo de Deus, que se mantém fiel à aliança, e pela qual Deus atende misericordiosamente o Seu povo, reconduzindo-o do exílio à Terra Prometida.

Já no Novo Testamento, o livro dos Atos dos Apóstolos lembra-nos como São Paulo foi libertado da perseguição dos judeus, em Damasco, sendo “descido num cesto, por uma janela, ao longo da muralha” (At 9,25; 2 Cor 11,33), para, deste modo, continuar o anúncio feliz do Evangelho.

…até à manjedoura de Belém!

Por este breve conjunto de textos, queremos ver no cesto, na cesta e no cabaz, de algum modo, uma espécie de símbolo da nossa salvação, o instrumento através do qual experimentamos o agir salvífico de Deus.

Neste Natal, o cabaz, que queremos apresentar, cheio de bons frutos, terá de ser “esvaziado”. Procuraremos que esse “vazio” aberto se encha de boas obras (expressas nos rolos de papel) e se torne assim “a manjedoura”, o lugar onde se alberga a nossa salvação. O cabaz familiar esvaziado no cabaz paroquial e este esvaziado na ajuda às famílias tornar-se-á então a manjedoura que abriga a vida d’Aquele pelo Qual todos somos salvos: “um recém-nascido, envolto em faixas e deposto numa manjedoura” (Lc 2,12).

Imbuídos e iluminados por esta simbologia propomos a seguinte “Caminhada de Advento-Natal 2015-2016”, com o lema “Há mais alegria em dar (-se)” (At 20,35)! “Felizes os misericordiosos” (Mt 5,7)!

2. Os passos da caminhada


Cada Domingo do Advento abrirá a semana com uma palavra-chave, a partir da Liturgia da Palavra, expressar-se-á com um gesto simbólico e proporá um desafio concreto.

Os desafios devem ser propostos por cada comunidade, tendo em conta a sua realidade concreta. Este guião apresenta algumas sugestões, apenas como um subsídio, sujeito à criatividade, e a trabalhar no âmbito do conselho pastoral ou de outros grupos ou organismos de corresponsabilidade da comunidade. Deverá ser amplamente divulgado, pelos meios que se considerarem ajustados, para poder ser assumido e vivido por todos. Uma vez concretizada a proposta, em família, cada um deverá partilhá-la por escrito, num pequeno papel, que depois de enrolado, será colocado no cabaz, em sua casa e posteriormente no cabaz da Igreja.

Em cada Domingo do Advento, as famílias serão convidadas a trazer os seus rolos de papel e a depositá-los no grande cabaz paroquial (entretanto esvaziado), de tal forma que estes se “tornem” as “palhinhas” da manjedoura, que acolherá o Menino Jesus.



3. Chave de leitura do esquema da caminhada


§  A referência bíblica diz respeito à citação bíblica que fundamenta a palavra-chave e a vivência semanal.
§  A palavra-chave é a palavra a valorizar, a partir de uma das leituras da Liturgia da Palavra de cada domingo.
§  O gesto simbólico, a realizar em comunidade e em família, traduz-se num gesto concreto, em três ações: encher, esvaziar, partilhar.
§  O desafio semanal é o imperativo, que leva à concretização da palavra-chave. Cada imperativo é acompanhado de algumas sugestões, para a vivência (pessoal) da caminhada, a serem enriquecidas por outras que estejam (mais) de acordo com o contexto de cada comunidade.

Exemplo: 1.º Domingo do Advento

§  A referência bíblica: “O Senhor vos faça crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos (1 Ts 3,12).
§  A palavra-chave: Caridade.
§  Gesto simbólico: Cada família (movimento, grupo paroquial) deve encontrar no seu espaço um lugar onde possa ser colocado um pequeno cesto (cabaz) que na noite de Natal acolherá o Menino Jesus. De acordo com as suas possibilidades, deve “rechear” este cabaz com algumas ofertas que queira partilhar com os mais pobres. Depois de recheados os cabazes, somos convidados a esvaziá-los, porque “há mais alegria em dar (-se)”. Este gesto pretende simbolizar a caridade e a solidariedade humana, à luz do Evangelho. Assim, na Eucaristia do domingo seguinte encontrar-se-á um momento e uma forma, para que os bens que cada um partilhou, sejam reunidos e colocados, em local visível, junto do cabaz paroquial. Este deve ser sinal da unidade, fraternidade e comunhão.
§  Desafios para a vivência semanal: De acordo com o imperativo “Dá”, sugerem-se algumas formas concretas de vivência da palavra “Caridade”.

4. Quadro resumo da caminhada 

Datas
Referências bíblicas
Palavras-chave
Gestos simbólicos
Desafios para vivência semanal
(com algumas sugestões)
1.ª Semana do Advento
“O Senhor vos faça crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos” (1 Ts 3,12)!
Caridade
- Apresentar o cabaz paroquial vazio.
- Construir o cabaz
em família.
Dá!
- Abdicar de algo material e colocá-lo no cabaz…
- Prestar atenção à família e àqueles que a rodeiam.
- Auxiliar aqueles que necessitam de ajuda
nas pequenas tarefas do dia a dia.
2.ª Semana do Advento
“Tenho plena confiança de que Aquele que começou em vós tão boa obra há de levá-la a bom termo, até ao dia de Cristo Jesus” (Fl 1,6)!
Confiança
Esvaziar o cabaz familiar ou de grupo
para o cabaz paroquial.
Confia!
- Dedicar algum do tempo à oração confiante.
- Experimentar o conforto e o consolo
de um Deus que confia em ti.
3.ª Semana do Advento
“Seja de todos conhecida
a vossa bondade” (Fl 4,5)!
Bondade
- Esvaziar o cabaz paroquial.
- Começar a encher o cabaz paroquial
com os “rolos”.
- Distribuir
o cabaz paroquial
pelos pobres.
Sê bom!
- Disponibilizar-se para ajudar alguém.
- Visitar, sozinho ou em família, um amigo, um vizinho, um doente, uma pessoa só.
4.ª Semana do Advento
“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio” (Lc 1,41)!
Acolhimento
Continuar a encher o cabaz paroquial com os “rolos” (“palhinhas”).
Acolhe!
- Telefonar/marcar um encontro com alguém que não se veja há muito tempo.
- Procurar, dentro da comunidade, alguém que viva sozinho (ou não tenha família)
para partilhar a Ceia de Natal.
Natal
“Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2,10-11)!
Alegria
- Colocar o Menino Jesus no cabaz transformado em manjedoura.
- Dar o Menino a beijar.
Alegra-te!
Levar aos outros esta mensagem:
“Deus ama-te, Cristo veio por ti.
 Para ti, Cristo é
Caminho, Verdade, Vida”!
Sagrada Família
“Como eleitos de Deus, santos e prediletos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência” (Cl 3,12)!
Família
Dar o Menino Jesus
a beijar.
Agradece!
Partilha, com amigos e vizinhos uma foto de família, etc…
Epifania
“Entraram na casa, viram o Menino com Maria, Sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O” (Mt 2,11)!
Presença
Dar o Menino Jesus
a beijar.
Cuida!
- Ir ao encontro de alguém
com quem nunca se teve coragem de dialogar.
- Sair da “zona de conforto” e tornar-se presente daquele que, aparentemente, é mais frágil.
- Rezar pelos irmãos perseguidos, refugiados, impedidos de adorar o Deus Menino em paz.
Batismo do Senhor

“Tu és o Meu Filho muito amado: em Ti pus toda a Minha complacência” (Lc 3,22)!
Porta
Ir ao batistério como quem atravessa a porta da misericórdia.
Entra!
- Redescobrir o Batismo
como porta de acesso à comunidade.
- Assumir o compromisso no seio desta comunidade, como discípulo missionário.
- Reler o Evangelho desta solenidade como uma mensagem pessoal de Deus para cada um de nós.

Notas:

1.      Antes da primeira semana do Advento, preparar o cabaz da paróquia. Convém enumerar os bens mais necessários ou urgentes a recolher, de acordo com as necessidades/carências concretas da comunidade.
2.      Definir, de acordo com esta proposta, os diferentes “desafios para vivência semanal” a propor à comunidade.