Neste último domingo do ano litúrgico, celebramos a
solenidade de Cristo Rei do universo. E o Evangelho de hoje faz-nos contemplar
Jesus enquanto se apresenta a Pilatos como rei de um reino que não é deste
mundo.
Isto não significa que Cristo seja rei de um outro
mundo, mas que é rei de um outro modo. Mas é Rei neste mundo! Trata-se de uma
contraposição entre duas lógicas. A lógica mundana apoia-se na ambição e na
competição, combate com as armas do medo, da chantagem e da manipulação das
consciências.
A lógica do Evangelho, de Jesus, ao contrário,
exprime-se na humildade e na gratuitidade, afirma-se silenciosa mas eficazmente
com a força da verdade. Os reinos deste mundo regem-se por vezes sobre
prepotências, rivalidades, opressões; o reino de Cristo é um
reino de justiça,
de amor e de paz.
Jesus revelou-se rei... Quando? No acontecimento da
cruz. Quem olha a cruz de Cristo não pode não ver a surpreendente gratuitidade do
amor. (...) Falar de poder e de força, para o cristão, significa fazer
referência ao poder da cruz e à força do amor de Jesus: um amor que permanece
sólido e íntegro, mesmo diante da recusa, e que aparece como o cumprimento de
uma vida gasta na total oferta de si em favor da humanidade.
No Calvário, quem passava e os chefes insultam
Jesus pregado na cruz, e lançam-lhe o desafio: «Salva-te a ti mesmo descendo da
cruz». Mas, paradoxalmente, a verdade de Jesus é precisamente aquele que em tom
de escárnio lhe atiram à cara os seus adversários: «Não pode salvar-se a si
próprio».
Se Jesus tivesse descido da cruz, teria cedido à
tentação do príncipe deste mundo; em vez disso, Ele não se pode salvar a si
mesmo para poder salvar os outros (...), para poder salvar cada um de nós dos nossos
pecados.
E isto, quem o compreendeu? Compreendeu-o um dos
dois malfeitores que são crucificados com Ele, chamado o "bom
ladrão", que lhe suplica: «Jesus, recorda-te de mim quando entrares no teu
reino» (...).
A força do reino de Cristo é o amor: por isso a
realeza de Jesus não nos oprime, mas liberta-nos das nossas fragilidades e
misérias, encorajando-nos a percorrer o caminho do bem, da reconciliação e do
perdão. (...)
Diante das muitas lacerações no mundo e às
demasiadas feridas na carne dos homens, peçamos à Virgem Maria de nos
sustentar-nos no nosso compromisso de imitar Jesus, nosso rei, tornando
presente o seu reino com gestos de ternura, de compreensão e de misericórdia.
Papa Francisco
"Angelus", Vaticano, 22.11.2015
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 22.11.2015