"Bem-aventurados os pobres
em espírito, porque
deles é o reino
dos Céus"
A liturgia deste Domingo fala-nos do verdadeiro culto,
do culto que devemos prestar a Deus. A Deus não interessam grandes
manifestações religiosas ou ritos externos mais ou menos sumptuosos, mas uma
atitude permanente de entrega nas suas mãos, de disponibilidade para os seus
projetos, de acolhimento generoso dos seus desafios, de generosidade para
doarmos a nossa vida em benefício dos nossos irmãos.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de uma
mulher pobre de Sarepta, que, apesar da sua pobreza e necessidade, está
disponível para acolher os apelos, os desafios e os dons de Deus. O pão e o
azeite que a mulher reparte com o profeta multiplicam-se milagrosamente. O
facto mostra que, quando alguém é capaz de sair do seu egoísmo e tem
disponibilidade para partilhar os dons recebidos de Deus, esses dons chegam
para todos e ainda sobram. A história dessa viúva que reparte com o profeta os
poucos alimentos que tem, garante-nos que a generosidade, a partilha e a
solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.
O Evangelho diz, através do exemplo de outra mulher
pobre, de outra viúva, qual é o verdadeiro culto que Deus quer dos seus filhos:
que eles sejam capazes de Lhe oferecer tudo, numa completa doação, numa pobreza
humilde e generosa (que é sempre fecunda), num despojamento de si que brota de
um amor sem limites e sem condições. Só os pobres, isto é, aqueles que não têm
o coração cheio de si próprios, são capazes de oferecer a Deus o culto
verdadeiro que Ele espera. O verdadeiro
crente é o que aceita despojar-se de tudo, prescindir dos seus interesses e
projetos pessoais, para se entregar completa e gratuitamente nas mãos de Deus,
com humildade, generosidade, total confiança, amor verdadeiro.
A segunda leitura oferece-nos o exemplo de Cristo, o
sumo-sacerdote que entregou a sua vida em favor dos homens. Ele mostrou-nos,
com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e que espera de cada
um dos seus filhos. Mais do que dinheiro ou outros bens materiais, Deus espera
de nós o dom da nossa vida, ao serviço desse projeto de salvação que Ele tem
para os homens e para o mundo. A certeza
de que Jesus Cristo, o sacerdote perfeito, venceu o pecado e está agora junto
de Deus, intercedendo por nós e esperando o momento de nos oferecer a vida
eterna, deve dar-nos confiança e esperança, ao longo da nossa caminhada diária
pela vida. As nossas fragilidades e debilidades não podem afastar-nos da comunhão
com Deus, da vida eterna e, no final do nosso caminho, Jesus, o nosso
libertador, lá estará à nossa espera para nos oferecer a vida definitiva.
Liturgia da Palavra do Domingo XXXII do Tempo Comum
I Leitura 1
Reis 17, 10-16
«Do
seu punhado de farinha, a viúva fez um pãozinho e trouxe-o a Elias»
Frequentes
vezes, a palavra de Deus apresenta o contraste entre a opulência e a pobreza,
entre a ostentação e a simplicidade, para nos fazer compreender que os humildes
e os simples, que a Sagrada Escritura chama “os pobres”, têm o primeiro lugar
aos olhos de Deus. Nesta leitura, vemos como foi uma pobre viúva que soube
acolher o profeta de Deus, e como por isso foi recompensada com dons
abundantes. Ensinamento semelhante ao que ouviremos no Evangelho.
Salmo
Salmo
145 (146)
Ó minha alma, louva o Senhor.
II
Leitura: Hebr 9, 24-28
«Cristo ofereceu-Se uma só vez para tomar sobre Si os pecados
de muitos»
O sacrifício de Cristo, oferecido por Ele sobre a Cruz, é o
momento culminante de toda a vida de Jesus e até da história de toda a
humanidade. Oferecendo-Se em sacrifício ao Pai, Ele abriu o caminho para junto
de Deus, primeiro para Ele mesmo, como homem que também era, e, em Si e
consigo, para todos os que a Ele se entregam e Lhe obedecem, como Ele obedeceu
ao Pai. Em Cristo todos podem encontrar o caminho e a porta para Deus.
Aclamação
ao Evangelho Mt 5, 3
Bem-aventurados os
pobres em espírito,
porque deles é o
reino dos Céus.
Evangelho Mc 12, 38-44
«Esta pobre viúva deu mais do que todos os outros»
Reflexão
Como a viúva de que falava a primeira
leitura também esta outra viúva a que se refere agora o Evangelho amou mais a
palavra de Deus do que os seus poucos bens, que eram, na verdade os únicos e
bem pequenos. Mas, por isso mesmo, a sua ação foi de maior alcance e mais
meritória do que as grandes dádivas dos que muito possuíam. Gesto bem pequeno,
portador de uma grande lição, porque inspirado por um grande amor.
Qual é o verdadeiro culto que
Deus espera de nós?
Qual deve ser a nossa resposta à
sua oferta de salvação?
A forma como Jesus aprecia o gesto daquela
pobre viúva não deixa lugar a qualquer dúvida. O que Deus pede é que sejamos
capazes de Lhe oferecer tudo, que aceitemos despojar-nos das nossas certezas,
das nossas manifestações de orgulho e de vaidade, dos nossos projetos pessoais
e preconceitos, a fim de nos entregarmos confiadamente nas suas mãos, com total
confiança, numa completa doação, numa pobreza humilde e fecunda, num amor sem
limites e sem condições. Esse é o verdadeiro culto, que nos aproxima de Deus e
que nos torna membros da família de Deus. O verdadeiro crente é aquele que não
guarda nada para si, mas que, dia a dia, no silêncio e na simplicidade dos
gestos mais banais, aceita sair do seu egoísmo e da sua autossuficiência e
colocar a totalidade da sua existência nas mãos de Deus.
Só quem não vive para as riquezas, só quem
não tem o coração obcecado com a posse dos bens - do dinheiro e da conta
bancária naturalmente,
mas, igualmente, do orgulho, da autossuficiência, da vontade de triunfar a todo
o custo, do desejo de poder e de autoridade, do desejo de ser aplaudido e
admirado - é capaz de estar disponível para acolher os desafios de Deus e para
aceitar, com humildade e simplicidade, os valores do Reino. Esses são os
preferidos de Deus.
O exemplo desta mulher garante-nos que só
quem é “pobre” – isto é, quem não tem o coração demasiado cheio de si próprio –
é capaz de viver para Deus e de acolher os desafios e os valores do Reino.