"Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?"
A liturgia do 28º Domingo do Tempo Comum convida-nos a reflectir sobre as escolhas que fazemos; recorda-nos que nem sempre o que reluz
é ouro e que é preciso, por vezes, renunciar a certos valores perecíveis, a fim
de adquirir os valores da vida verdadeira e eterna.
Na primeira leitura, um “sábio” de Israel
apresenta-nos um “hino à sabedoria”. O texto convida-nos a adquirir a
verdadeira “sabedoria” e a prescindir dos valores efémeros que não realizam o
homem. Esta “sabedoria” é, fundamentalmente, a capacidade de fazer as escolhas
corretas, de tomar as decisões certas, de escolher os valores verdadeiros que
conduzem o homem ao êxito, à realização, à felicidade. Esta “sabedoria” vem de
Deus e é um dom que Deus oferece a todos os homens que tiverem o coração
disponível para o acolher. É preciso, portanto, ter os ouvidos atentos para
escutar e o coração disponível para acolher a “sabedoria” que Deus quer
oferecer a todos os homens. O verdadeiro “sábio” é aquele que escolheu escutar
as propostas de Deus, aceitar os seus desafios, seguir os caminhos que Ele
indica.
A segunda leitura convida-nos a escutar e a acolher a
Palavra de Deus proposta por Jesus. Ela é viva, eficaz, actuante. Uma vez
acolhida no coração do homem, transforma-o, renova-o, ajuda-o a discernir o bem
e o mal e a fazer as opções corretas, indica-lhe o caminho certo para chegar à
vida plena e definitiva. A Palavra de Deus ajuda-nos a discernir o bem e o mal
e a fazer as opções corretas. Ela ecoa no nosso coração, confronta-nos com as
nossas infidelidades, critica os nossos falsos valores, denuncia os nossos
esquemas de egoísmo e de comodismo, mostra-nos o sem sentido das nossas opções
erradas, grita-nos que é preciso corrigir a nossa rota, desperta a nossa
consciência, indica-nos o caminho para Deus.
O Evangelho apresenta-nos um homem que quer conhecer o
caminho para alcançar a vida eterna. Jesus convida-o renunciar às suas riquezas
e a escolher o “caminho do Reino” – caminho de partilha, de solidariedade, de
doação, de amor. É nesse caminho – garante Jesus aos seus discípulos – que o
homem se realiza plenamente e que encontra a vida eterna.
Liturgia da Palavra do Domingo XXVIII do Tempo Comum
I Leitura Sab 7, 7-11
«Considerei
a riqueza como nada, em comparação com a sabedoria»
A
sabedoria é um dos temas mais queridos de certas épocas e de certos povos, como
o era na época em que foi escrito o livro donde é tirada esta leitura. A
sabedoria é, na Sagrada Escritura, um dom de Deus, que leva o homem a saber
apreciar e interpretar a vida e os acontecimentos segundo o pensamento e os
critérios de Deus, que Ele mesmo nos revela. É esta sabedoria que nos há-de
levar a compreender as palavras de Jesus que vamos depois escutar no Evangelho.
Salmo
89 (90),
Saciai-nos, Senhor, com a vossa bondade e exultaremos de
alegria..
II
Leitura: Hebr 4, 12-13
«A palavra de Deus é capaz de discernir os pensamentos e
intenções do coração»
Esta leitura faz a apresentação de certos aspectos da Palavra
de Deus. Ela é palavra eficaz: realiza sempre aquilo que diz. Ela não é apenas
um som que se ouve: ela penetra até ao mais fundo do coração, e só ela é capaz
de pôr o homem, no seu íntimo, diante da verdade total. Ela tudo ilumina e não
deixa que haja esconderijos nem disfarces; ela é como o olhar de Deus: tudo
penetra e tudo ilumina.
Aclamação
ao Evangelho Mt 5, 3
Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino
dos Céus..
Evangelho Mc
10, 17-30
«Vende o que tens e segue-Me»
A vida segundo o Evangelho não é um negócio, não se
lhe deitam cálculos como quem olha para a sua conta no banco. É antes a
resposta de fé à Palavra de Deus. E um dos obstáculos que mais frequentemente
impede de compreender e responder prontamente à Palavra de Deus são os bens da
terra. Só a sabedoria de Deus nos poderá trazer a luz necessária para
aceitarmos, com fé e esperança, a palavra do Senhor, que é a palavra da
salvação.
Reflexão
O que é preciso fazer para alcançar a vida
eterna?
Jesus responde: é preciso, antes de mais,
viver de acordo com as propostas de Deus (mandamentos); e é preciso também
assumir os valores do Reino e seguir Jesus no caminho do amor a Deus e da
entrega aos irmãos. A vida eterna é sempre um dom gratuito de Deus, fruto da
sua bondade, da sua misericórdia, do seu amor pelo homem; no entanto, é um dom
que o homem aceita, acolhe e com o qual se compromete. Quando o homem vive de
acordo com os mandamentos de Deus e segue Jesus, não está a conquistar a vida
eterna; está, sim, a responder positivamente à oferta de vida que Deus lhe faz
e a reconhecer que o caminho que Deus lhe indica é um caminho de vida e de
felicidade.
Quando falamos em vida eterna, não estamos a
falar apenas na vida que nos espera no céu; mas estamos a falar de uma vida
plena de qualidade, de uma vida que leva o homem à sua plena realização, de uma
vida de paz e de felicidade. Deus oferece-nos essa vida já neste mundo e
convida-nos a acolhê-la e a escolhê-la em cada dia da nossa caminhada nesta
terra; no entanto, sabemos que só atingiremos a plenitude da vida quando nos
libertarmos da nossa finitude, da nossa debilidade, das limitações que a nossa
humanidade nos impõem. A vida eterna é uma realidade que deve marcar cada passo
da nossa existência terrena e que atingirá a plenitude na outra vida, no céu.
Quem quiser “alcançar a vida eterna” tem de
olhar para Jesus, aprender com Ele, segui-l’O, fazer da própria vida – como
Jesus fez da sua vida – uma escuta atenta das propostas de Deus e um dom de
amor aos irmãos. Nós,
crentes, sabemos, contudo, que os bens deste mundo, embora nos proporcionem bem
estar e segurança, não nos oferecem a vida eterna; essa vida eterna que
buscamos ansiosamente está nesse caminho de amor, de serviço, de dom da vida
que Cristo nos ensinou a percorrer.
Jesus garante que não se trata de um caminho
de fracasso e de perda, mas de um caminho que realiza plenamente os sonhos e as
necessidades dos homens que O escolheram. Seguir o “caminho do Reino” não é,
portanto, aceitar viver infeliz e sacrificado nesta terra, com a esperança de
uma recompensa no mundo que há de vir; mas é, livre e conscientemente, escolher
um caminho de vida plena, de realização, de alegria, de felicidade.