"O Filho
do homem não veio
para ser servido,
mas para
servir e dar a vida pela
redenção de todos"
A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum lembra-nos,
mais uma vez, que a lógica de Deus é diferente da lógica do mundo. Convida-nos
a prescindir dos nossos projectos pessoais de poder e de grandeza e a fazer da
nossa vida um serviço aos irmãos. É no amor e na entrega de quem serve
humildemente os irmãos que Deus oferece aos homens a vida eterna e verdadeira.
A primeira leitura apresenta-nos a figura de um “Servo
de Deus”, insignificante e desprezado pelos homens, mas através do qual se
revela a vida e a salvação de Deus. Lembra-nos que uma vida vivida na
simplicidade, na humildade, no sacrifício, na entrega e no dom de si mesmo não
é, aos olhos de Deus, uma vida maldita, perdida, fracassada; mas é uma vida
fecunda e plenamente realizada, que trará libertação e esperança ao mundo e aos
homens.
Onde está Deus? Onde podemos encontrar o seu rosto, as
suas propostas, os seus apelos e desafios? Deus vem, tantas vezes, ao nosso
encontro na pobreza, na pequenez, na simplicidade, na fragilidade, na
debilidade… Conscientes desta realidade, poderemos perceber a presença de Deus
a nosso lado nos pequenos gestos que todos os dias testemunhamos e que nos dão
esperança, nas coisas simples e banais que nos enchem o coração de paz, nas
pessoas humildes que o mundo despreza e marginaliza, mas que são capazes de
gestos de serviço, de partilha, de doação, de entrega. Deus está na
simplicidade do amor que se faz dom, serviço, entrega humilde aos irmãos.
Na segunda leitura, o autor da Carta aos Hebreus
fala-nos de um Deus que ama o homem com um amor sem limites e que, por isso,
está disposto a assumir a fragilidade dos homens, a descer ao seu nível, a
partilhar a sua condição. Ele não Se esconde atrás do seu poder e da sua
omnipotência, mas aceita descer ao encontro homens para lhes oferecer o seu
amor.
No Evangelho, Jesus convida os discípulos a não se
deixarem manipular por sonhos pessoais de ambição, de grandeza, de poder e de
domínio, mas a fazerem da sua vida um dom de amor e de serviço. Ele recusou as
tentações da ambição, do poder, da grandeza, dos aplausos das multidões; desde
o primeiro instante, Ele fez da sua vida um serviço aos pobres, aos
desclassificados, aos pecadores, aos marginalizados, aos últimos. O ponto
culminante dessa vida de doação e de serviço foi a morte na cruz – expressão
máxima e total do seu amor aos homens. A atitude de serviço que Jesus pede aos
seus discípulos deve manifestar-se, de forma especial, no acolhimento dos
pobres, dos débeis, dos humildes, dos marginalizados, dos sem direitos,
daqueles que não nos trazem o reconhecimento público, daqueles que não podem
retribuir-nos… Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar
com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.
Liturgia da Palavra do Domingo XXIX do Tempo Comum
I Leitura Is
53, 10-11
«Se
oferecer a sua vida como sacrifício de expiação, terá uma descendência
duradoira»
Esta
leitura é um dos chamados “Cânticos do Servo de Deus” do Livro de Isaías. Este
Servo apresenta-se como alguém que leva o seu espírito de serviço até ao ponto
de dar a própria vida pela salvação da multidão. Jesus há-de realizar, da
maneira mais perfeita que se possa imaginar, esta figura do Servo de Deus, e
ensinou que este é o único caminho para entender a sua missão e a nossa, como
seus discípulos e membros do seu povo.
Salmo
32 (33)
Desça sobre nós a vossa misericórdia, porque em Vós
esperamos, Senhor.
II
Leitura: Hebr 4, 14-16
«Vamos cheios de confiança ao trono da graça»
Por uma coincidência feliz, esta leitura liga-se hoje muito
bem às outras duas. Fala-nos ela de Cristo como nosso Sacerdote. Ele não só Se
ofereceu a Si mesmo ao Pai por nós, mas, como fruto dessa oblação, Ele mesmo,
em sua humanidade, penetrou nos Céus e lá colocou, à direita do Pai, a nossa
pobre humanidade, por Ele salva. Aí Ele continua a ser o Sacerdote da
humanidade, por quem sempre intercede junto do Pai. Podemos, por isso,
aproximar-nos confiantes de Deus, que nos acolhe com a sua graça.
Aclamação
ao Evangelho Mc 10, 45
O Filho do homem veio para servir e dar a vida pela redenção
de todos.
Evangelho Mc 10, 35-45
«O Filho do homem veio para dar a vida pela redenção
de todos»
Jesus realizou em Si a figura do Servo de Deus, de que
falava a primeira leitura. E, se hoje O reconhecemos como “Senhor”, foi porque
o Pai O exaltou e Lhe deu esse nome, que está acima de todos os nomes, depois
de Ele ter sido obediente até à morte e morte de cruz. O caminho que O levou à
glória foi o do serviço até à morte.