"Os
preceitos do Senhor alegram o coração"
Salmo
18(19)
A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum apresenta
várias sugestões para que os crentes possam purificar a sua opção e integrar,
de forma plena e total, a comunidade do Reino. Uma das sugestões mais
importantes (que a primeira leitura apresenta e que o Evangelho recupera) é a
de que os crentes não pretendam ter o exclusivo do bem e da verdade, mas sejam
capazes de reconhecer e aceitar a presença e a ação do Espírito de Deus através
de tantas pessoas boas que não pertencem à instituição Igreja, mas que são
sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.
A primeira leitura, recorrendo a um episódio da marcha
do Povo de Deus pelo deserto, ensina que o Espírito de Deus sopra onde quer e
sobre quem quer, sem estar limitado por regras, por interesses pessoais ou por
privilégios de grupo. O verdadeiro crente é aquele que, como Moisés, reconhece
a presença de Deus nos gestos proféticos que vê acontecer à sua volta. A
comunidade do Povo de Deus é a comunidade do Espírito. O Espírito não é
privilégio dos membros da hierarquia; mas está bem vivo e bem presente em todos
aqueles que abrem o coração aos dons de Deus e que aceitam comprometer-se com
Jesus e com o seu projeto de vida.
A segunda leitura convida os crentes a não colocarem a
sua confiança e a sua esperança nos bens materiais, pois eles são valores
perecíveis e que não asseguram a vida plena para o homem. Acumular bens à custa
da miséria e da exploração dos irmãos é um crime abominável e que Deus não
deixará impune. Mais: as injustiças cometidas por quem faz da acumulação dos
bens materiais a finalidade da sua existência afastá-lo-ão da comunidade dos
eleitos de Deus.
No Evangelho temos uma instrução, através da qual
Jesus procura ajudar os discípulos a situarem-se na órbita do Reino. Nesse
sentido, convida-os a constituírem uma comunidade que, sem arrogância, sem
ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem e da verdade, procura acolher,
apoiar e estimular todos aqueles que atuam em favor da libertação dos irmãos;
convida-os também a não excluírem da dinâmica comunitária os pequenos e os
pobres; convida-os ainda a arrancarem da própria vida todos os sentimentos e
atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino. O discípulo de Jesus
nunca está acomodado, instalado, conformado; mas está sempre atento e
vigilante, procurando detetar e eliminar da sua existência tudo aquilo que lhe
impede o acesso à vida plena. Naturalmente, a renúncia ao egoísmo, ao
comodismo, ao orgulho, aos esquemas pessoais, à vontade de poder e de domínio,
ao apelo do êxito, ao aplauso das multidões, é um processo difícil e doloroso;
mas é também um processo libertador e gerador de vida nova.
Liturgia da Palavra do Domingo XXVI do Tempo Comum
I Leitura Num
11, 25-29
«Estás
com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo fosse profeta!»
Uma
das grandes fraquezas humanas é o espírito de inveja e de partidarismo; e essa
atitude de espírito é um dos maiores impedimentos à unidade e à colaboração.
Tal atitude aparece até dentro da comunidade do povo de Deus, como se pode ver
já nesta passagem do Antigo Testamento. Mas um espírito reto e humilde, como o
de Moisés, saberá antes agradecer ao Senhor os dons que reconhecer nos outros,
e não lhos invejar. É preciso antes compreender que o povo de Deus é todo ele
animado pelo Espírito de Deus, o qual assiste a cada um em ordem à função que
lhe cabe no meio desse povo.
Salmo 18 (19)
Os preceitos do Senhor alegram o coração..
II
Leitura: Tg 5, 1-6
«As vossas riquezas estão apodrecidas»
O Apóstolo que escreveu o texto que hoje nos é proclamado
pertenceu à primeira geração cristã. Por ele se vê como a fé, que inspirou, na
Sagrada Escritura, páginas da mais alta mística, inspirou igualmente
orientações muito práticas para a vida social, no que diz respeito ao uso dos
bens temporais e à justiça para com o próximo.
Aclamação
ao Evangelho Jo 17, 17b.a
A vossa palavra, Senhor, é a verdade; santificai-nos na verdade.
Evangelho Mc 9, 38-43.45.47-48
«Quem não é contra nós é por nós.
Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a»
O
Espírito de Deus, que encheu a terra inteira, quer atingir, pela sua ação,
todos os homens. Onde quer que a sua ação se manifeste, aí está a sua presença.
E os filhos da Igreja devem alegrar-se com isso, procurando sempre, à luz do
Espírito, discernir o que é ou não fruto desse mesmo Espírito. É à luz do
Espírito de Deus que cada qual procurará ajuizar das suas próprias atitudes,
deixando para trás tudo o que for obstáculo ao reino de Deus.