A liturgia do 25º Domingo do Comum convida-nos a
prescindir da “sabedoria do mundo” e a escolher a “sabedoria de Deus”. Só a
“sabedoria de Deus” possibilitará ao homem o acesso à vida plena, à felicidade
sem fim.
A primeira leitura avisa-nos de que escolher a “sabedoria de Deus” provocará o ódio do mundo. Contudo, o sofrimento não pode desanimar os que escolhem a “sabedoria de Deus”: a perseguição é a consequência natural da sua coerência de vida.
A segunda leitura exorta os cristãos a viver de acordo com a “sabedoria de Deus”, pois só ela pode conduzir o homem ao encontro da vida plena. Ao contrário, uma vida conduzida segundo os critérios da “sabedoria do mundo” irá gerar violência, divisões, conflitos, infelicidade, morte.
O Evangelho apresenta-nos uma história de confronto entre a “sabedoria de Deus” e a “sabedoria do mundo”. Jesus, imbuído da lógica de Deus, está disposto a aceitar o projeto do Pai e a fazer da sua vida um dom de amor aos homens; os discípulos, imbuídos da lógica do mundo, não têm dificuldade em entender essa opção e em comprometer-se com esse projeto. Jesus avisa-os, contudo, de que só há lugar na comunidade cristã para quem escuta os desafios de Deus e aceita fazer da vida um serviço aos irmãos, particularmente aos humildes, aos pequenos, aos pobres.
O que é a “sabedoria do mundo”? A “sabedoria do mundo” é a atitude de quem, fechado no seu orgulho e autossuficiência, resolve prescindir de Deus e dos seus valores, de quem vive para o “ter”, de quem põe em primeiro lugar o dinheiro, o poder, o êxito, a fama, a ambição, os valores efémeros. Trata-se de uma “sabedoria” que, em lugar de conduzir o homem à sua plena realização, o torna vazio, frustrado, deprimido, escravo.
O que é a “sabedoria de Deus”? A “sabedoria de Deus” é a atitude daqueles que assumiram e interiorizaram as propostas de Deus e se deixam conduzir por elas. Atentos à vontade e aos desafios de Deus, procuram escutá-l’O e seguir os seus caminhos; tendo como modelo de vida Jesus Cristo, vivem a sua existência no amor e no serviço aos irmãos; comprometem-se com a construção de um mundo mais fraterno e lutam pela justiça e pela paz. Trata-se de uma “sabedoria” que nem sempre é entendida pelos homens e que, tantas vezes, é considerada um refúgio para os simples, os incapazes, os pouco ambiciosos, os vencidos, aqueles que nunca moldarão o edifício social. Parece, muitas vezes, apenas gerar sofrimento, perseguição, incompreensão, dor, fracasso. No entanto, trata-se de uma “sabedoria” que leva o homem ao encontro da verdadeira felicidade, da verdadeira realização, da vida plena.
Liturgia da Palavra do Domingo XXV do Tempo Comum
I Leitura Sab 2, 12.17-20
«Condenemo-lo
à morte infamante»
Esta
leitura descreve, em primeiro lugar, a atitude dos judeus influenciados pelas
civilizações dos outros povos que lhes iam fazendo perder a fé na lei de Deus,
transmitida pelos seus antepassados. Esses pagãos experimentam-nos,
perseguindo-os e maltratando-os. O mistério da Cruz virá demonstrar que os
sofrimentos dos homens, assumidos por Jesus, não serão uma derrota que põe fim
a tudo, mas caminho de libertação e glória, porque Deus está com o justo. O
justo por excelência é Jesus Cristo.
Salmo 53 (54)
O Senhor sustenta a minha vida.
II
Leitura: Tg 3, 16 – 4, 3
«O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que
praticam a paz»
A má convivência entre os homens procede sempre da atitude
interior, egoísta, menos recta, viciada, própria de uma natureza deixada a si
mesma, onde a sabedoria de Deus não lançou a sua luz e a sua paz. Porque a
natureza não pode dar esta sabedoria, é necessário pedi-la a Deus, que a dará
abundantemente a quem Lha pedir.
Aclamação
ao Evangelho 2 Tes 2, 14
Deus chamou-nos por meio do Evangelho,
para alcançarmos a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Evangelho Mc 9, 30-37
«O Filho do homem vai ser entregue...
Quem quiser ser o primeiro será o servo de todos»
A leitura da hoje continua a do domingo anterior:
Jesus quer fazer compreender aos seus o sentido da sua Paixão e o sentido da
vida cristã em geral, que não é a procura de grandezas, mas o serviço de Deus e
dos homens segundo os caminhos de Deus: os da humildade e simplicidade.
Reflexão
O Evangelho de hoje
convida-nos a repensar a nossa forma de nos situarmos, quer na sociedade, quer
dentro da própria comunidade cristã. A instrução de Jesus aos discípulos que o
Evangelho deste domingo nos apresenta é uma denúncia dos jogos de poder, das
tentativas de domínio sobre os irmãos, dos sonhos de grandeza, das manobras
para conquistar honras e privilégios, da busca desenfreada de títulos, da caça
às posições de prestígio… Esses comportamentos são ainda mais graves quando
acontecem dentro da comunidade cristã: trata-se de comportamentos incompatíveis
com o seguimento de Jesus. Nós, os seguidores de Jesus, não podemos, de forma
alguma, pactuar com a “sabedoria do mundo”; e uma Igreja que se organiza e
estrutura tendo em conta os esquemas do mundo não é a Igreja de Jesus.
Na nossa sociedade, os primeiros são os que têm dinheiro, os que têm poder, os que frequentam as festas badaladas nas revistas da sociedade, os que vestem segundo as exigências da moda, os que sabem colar-se aos valores politicamente corretos… E na comunidade cristã? Quem são os primeiros? As palavras de Jesus não deixam qualquer dúvida: “quem quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos”. Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos. Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social… Na comunidade cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos. Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.
A atitude de serviço que Jesus pede aos seus discípulos deve manifestar-se, de forma especial, no acolhimento dos pobres, dos débeis, dos humildes, dos marginalizados, dos sem direitos, daqueles que não nos trazem o reconhecimento público, daqueles que não podem retribuir-nos… Seremos capazes de acolher e de amar os que levam uma vida pouco exemplar, os marginalizados, os estrangeiros, os doentes incuráveis, os idosos, os difíceis, os que ninguém quer e ninguém ama?