7 de setembro de 2015

Domingo XXIV do Tempo Comum


«Tudo o que faz é admirável:
faz que os surdos oiçam e que os mudos falem.»

A liturgia do 23º Domingo do Tempo Comum fala-nos de um Deus comprometido com a vida e a felicidade do homem, continuamente apostado em renovar, em transformar, em recriar o homem, de modo a fazê-lo atingir a vida plena do Homem Novo.
Na primeira leitura, o Povo de Deus, exilado na Babilónia, está paralisado pelo desespero. Mostra-se abatido e incapaz de sair, por si só, da sua triste situação. Não tem perspectivas de futuro e não vê qualquer razão para ter esperança. Apesar das aparências, Deus não esqueceu o seu Povo. Judá deve recobrar ânimo e preparar-se para acolher o Senhor. O próprio Deus irá realizar a libertação; Ele fará justiça e recompensará o seu Povo por todos os sofrimentos suportados no tempo do cativeiro. Um profeta garante aos exilados, afogados na dor e no desespero, que Deus está prestes a vir ao encontro do seu Povo para o libertar e para o conduzir à sua terra. Nas imagens dos cegos que voltam a contemplar a luz, dos surdos que voltam a ouvir, dos coxos que saltarão como veados e dos mudos a cantar com alegria, o profeta representa essa vida nova, excessiva, abundante, transformadora, que Deus vai oferecer a Judá.

A segunda leitura dirige-se àqueles que acolheram a proposta de Jesus e se comprometeram a segui-l’O no caminho do amor, da partilha, da doação. Convida-os a não discriminar ou marginalizar qualquer irmão e a acolher com especial bondade os pequenos e os pobres. Os “pobres deste mundo” são os humildes, os débeis, os pacíficos, aqueles que se apresentam diante de Deus numa atitude de simplicidade, despidos de qualquer atitude de orgulho, de auto-suficiência, de preconceitos; são aqueles que, com humildade e disponibilidade, aceitam os dons de Deus e acolhem as suas propostas com alegria e gratidão.
No Evangelho, Jesus, cumprindo o mandato que o Pai Lhe confiou, abre os ouvidos e solta a língua de um surdo-mudo… No gesto de Jesus, revela-se esse Deus que não Se conforma quando o homem se fecha no egoísmo e na auto-suficiência, rejeitando o amor, a partilha, a comunhão. O encontro com Cristo leva o homem a sair do seu isolamento e a estabelecer laços familiares com Deus e com todos os irmãos, sem excepção.


Liturgia da Palavra do Domingo XXIV do Tempo Comum


I Leitura                 Is 35, 4-7a

«Então se desimpedirão os ouvidos dos surdos e a língua do mudo cantará de alegria»

O profeta anuncia a hora da libertação depois do exílio de Babilónia com imagens de curas cheias de alegria. Jesus há-de realizar à letra estas e outras imagens, mostrando assim que chegara com Ele a hora da salvação, desde longe anunciada.     


Salmo   145 (146)
Ó minha alma, louva o Senhor.


II Leitura:             Tg 2, 1-5

«Não escolheu Deus os pobres para serem herdeiros do reino?»

Deus não faz acepção de pessoas. Assim também o cristão não a há de fazer; pelo contrário, o amor de Deus, mostra-se mais benevolente para com os mais pobres e os mais desprezados. O cristão há de dar maior atenção aos que dela mais precisarem.


Aclamação ao Evangelho                   Mt 4, 23

Jesus pregava o Evangelho do reino
e curava todas as enfermidades entre o povo.


Evangelho             Mc 7, 31-37

«Faz que os surdos oiçam e que os mudos falem»


Aquilo que os Profetas anunciaram, veio Jesus realizá-lo, mostrando assim que, com Ele, tinham chegado os tempos tão esperados do reino de Deus, que os surdos podiam agora escutar a palavra de Deus, que os mudos podiam proclamar o louvor do Senhor, que todos os homens podiam reconhecer n’Ele o Enviado de Deus e o seu Salvador.

                                       
                                          Reflexão 

O Evangelho deste domingo garante-nos, uma vez mais, que o Deus em quem acreditamos é um Deus comprometido connosco, continuamente apostado em renovar o homem, em transformá-lo, em recriá-lo, em fazê-lo chegar à vida plena do Homem Novo. Este Deus que abre os ouvidos dos surdos e solta a língua dos mudos é um Deus cheio de amor, que não abandona os homens à sua sorte nem os deixa adormecer em esquemas de comodismo e de instalação; mas, a cada instante, vem ao seu encontro, desafia-os a ir mais além, convida-os a atingir a plenitude das suas possibilidades e das suas potencialidades. Não esqueçamos esta realidade: na nossa viagem pela vida, não caminhamos sozinhos, arrastando sem objectivo a nossa pequenez, a nossa miséria, a nossa debilidade; mas ao longo de todo o nosso percurso pela história, o nosso Deus vai ao nosso lado, apontando-nos, com amor, os caminhos que nos conduzem à felicidade.

O surdo-mudo, incapaz de escutar a Palavra de Deus, representa esses homens que vivem fechados aos projectos e aos desafios de Deus, ocupados em construir a sua vida de acordo com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, que não precisam de Deus nem das suas propostas. O homem do nosso tempo já nem gasta tempo a negar Deus; limita-se a ignorá-l’O, surdo aos seus desafios e às suas indicações.

O surdo-mudo representa também aqueles que não se preocupam em comunicar, em partilhar a vida, em dialogar, em deixar-se interpelar pelos outros… Define a atitude de quem não precisa dos irmãos para nada, de quem vive instalado nas suas certezas e nos seus preconceitos, convencido de que é dono absoluto da verdade. Define a atitude de quem não é tolerante, de quem não consegue compreender os erros e as falhas dos outros e não sabe perdoar. Cristo veio abrir-nos à relação com Deus, ao amor dos irmãos, ao compromisso com o mundo. Quem adere a Cristo e quer segui-l’O no caminho do amor a Deus e da entrega aos irmãos, não pode resignar-se a viver fechado a Deus e ao mundo. O encontro com Cristo tira-nos da mediocridade e desperta-nos para o compromisso, para o empenho, para o testemunho. Leva-nos a sair do nosso isolamento e a estabelecer laços familiares com Deus e com todos os nossos irmãos, sem excepção.