29 de março de 2015

Domingo de Ramos na Paixão do Senhor


A liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. O profeta é o homem da Palavra, através de quem Deus fala; a proposta de redenção que Deus faz a todos aqueles que necessitam de salvação/libertação ecoa na palavra profética. O profeta é inteiramente modelado por Deus e não opõe resistência nem ao chamamento, nem à Palavra que Deus lhe confia; mas tem de estar, continuamente, numa atitude de escuta de Deus, para que possa depois apresentar – com fidelidade – essa Palavra de Deus para os homens. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe. O cristão deve ter como exemplo esse Cristo, servo sofredor e humilde, que fez da sua vida um dom a todos. Esse caminho não levará ao aniquilamento, mas à glória, à vida plena.

O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total. Na cruz, vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como missão a luta contra o pecado – isto é, contra todas as causas objetivas que geram medo, injustiça, sofrimento, exploração e morte. Assim, a cruz mantém o dinamismo de um mundo novo – o dinamismo do “Reino”


Liturgia da Palavra do Domingo de Ramos na Paixão do Senhor


I Leitura                                 Is. 50, 4-7

«Não desviei o meu rosto dos que Me ultrajavam,
mas sei que não ficarei desiludido»

Esta leitura é um dos chamados “Cânticos do Servo do Senhor”. Este Servo revela-se plenamente em Jesus, na sua Paixão: Ele escuta a palavra do Pai e responde-lhe cheio de confiança, oferecendo-Se, em obediência total, pela salvação dos homens.

 Salmo   21 (22)
Meu Deus, meu Deus,
porque me abandonastes?


II Leitura:             Filip 2, 6-11

«Humilhou-Se a Si próprio; por isso Deus O exaltou»

Esta leitura é também um cântico, mas agora do Novo Testamento, muito provavelmente em uso nas primitivas comunidades cristãs. Nele é celebrado o Mistério Pascal: Cristo fez-Se um de nós, obedeceu aos desígnios do Pai e humilhou-Se até à morte, e foi, por isso, exaltado até à glória de “Senhor”, que é a própria glória de Deus.

Aclamação ao Evangelho                   Filip 2, 8-9

Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes.

Evangelho             Mc 14, 1 – 15, 47

O Evangelho de São Marcos é o mais antigo, porque escrito antes dos outros, e é também o mais breve, não só na história da Paixão como em todo ele. Este evangelista aponta com bastante realismo alguns episódios fruto de especial observação de situações particulares e até pitorescas, como a que envolve o servo do sumo sacerdote aquando da prisão de Jesus.

Celebrar a paixão e a morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites e fragilidades, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, experimentou a angústia e o pavor diante da morte; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir connosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.
Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude que Ele assumiu e solidarizar-Se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade… Olhar a cruz de Jesus significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
A “angústia” e o “pavor” de Jesus diante da morte, o seu lamento pela solidão e pelo abandono, tornam-n’O muito “humano”, muito próximo das nossas debilidades e fragilidades. Dessa forma, é mais fácil identificarmo-nos com Ele, confiar n’Ele, segui-l’O no seu caminho do amor e da entrega. A humanidade de Jesus mostra-nos, também, que o caminho da obediência ao Pai não é um caminho impossível, reservado a super-heróis ou a deuses, mas é um caminho de homens frágeis, chamados por Deus a percorrerem, com esforço, o caminho que conduz à vida definitiva.             


Palavra de Deus para a semana de 30 de março a 4 de abril


30
Seg
Is 42, 1-7 - Salmo 26 (27) - Jo 12, 1-11
Salve, Senhor, nosso Rei; só Vós tivestes piedade dos nossos erros
31
Ter
Is 49, 1-6 - Salmo 70 (71) - Jo 13, 21-33. 36-38
Salve, Senhor, nosso Rei, obediente ao Pai,
que fostes levado como manso cordeiro à morte na cruz
1
Qua
Is 50, 4-9a - Salmo 68 (69) - Mt 26, 14-25
Salve, Senhor, nosso Rei; só Vós tivestes piedade dos nossos erros

2
Qui
MISSA VESPERTINA DA CEIA DO SENHOR
Ex 12, 1-8. 11-14 - Salmo 115 (116) - 1 Cor 11, 23-26 -  Jo 13, 1-15
Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.

3
Sex
CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR
Is 52, 13 – 53, 12 - Salmo 30 (31) - Hebr 4, 14-16 – 5, 7-9 - Jo 18, 1 – 19, 42
Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes.
4
Sáb
Vigília Pascal na Noite Santa
Gen 1, 1 – 2, 2 - Gen 22, 1-18 - Ex 14, 15 – 15, 1 -  Is 54, 5-14 -  Is 55, 1-11
Bar 3, 9-15. 32 – 4, 4 - Ez 36, 16-17a. 18-28 -Rom 6, 3-11 - Mc 16, 1-8
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a Sua misericórdia

PREPARANDO A LITURGIA PARA O DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR


Act. 10, 34a, 37-43             Cristo ressuscitou!

Salmo   117(118)                Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.

Col. 3, 1-4                             Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra

I Cor 5, 7b-8ª                       Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado:
celebremos a festa do Senhor

Intenções para a Eucaristia de 29 de março (10:00h)

Manuel Vieira Ribeiro, pais e sogros; Manuel Alfredo da Fonseca Soares; Alexandre Joaquim Soares; Fernando Pinto Melo; Joaquim Moreira e esposa, do Alto; Maria Luísa de Sousa e marido, de Vila Nova; Joaquim Vieira e esposa, das Regadas; Gualter Ferraz Pinto, de Vila Nova; Maria Emília Leal Teixeira; Maria da Conceição Aguiar Pinto e marido; 5.º Aniversário falecimento de Ricardo Luís e Palmira Pereira de Jesus; 6.º Aniversário falecimento de Margarida Madureira de Almeida; António da Silva Luís, do Lameu

Intenções para a Eucaristia de 5 de abril (8:30h)


João de Jesus Pinto, de Requim, mãe e sogros; Natália Fernanda da Silva Alves e seus avós; Margarida Teixeira de Jesus, marido e filho; Maria Rosa Leal Pinheiro; Maria da Graça da Glória, marido e filho; Emídio Luís, Maria da Conceição Alves e filho; António Pinto Melo; Alexandre da Silva Azeredo; José Vieira Bouça e Maria Rosa Bessa de Almeida


Agenda


2 abr
    • Missa Vespertina da Ceia do Senhor, Igreja, 20:30h
3 abr
    • Celebração da Paixão do Senhor, Igreja, 20:30h
4 abr
    • SÁBADO SANTO – Oração de Vésperas 1º Sábado, Igreja, 18:30h
5 abr
    • DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR- Igreja,8:30h

Jesus, o servo de Deus: ele é a Palavra de Deus feita carne, que oferece a sua vida para trazer a salvação/libertação aos homens… A vida de Jesus realiza plenamente esse destino de dom e de entrega da vida em favor de todos; e a sua glorificação mostra que uma vida vivida deste jeito não termina no fracasso, mas na ressurreição que gera vida nova.
Jesus, o “servo” sofredor que faz da sua vida um dom por amor, mostra aos seus seguidores o caminho: a vida, quando é posta ao serviço da libertação dos pobres e dos oprimidos, não é perdida mesmo que pareça, em termos humanos, fracassada e sem sentido. Temos a coragem de fazer da nossa vida uma entrega radical ao projecto de Deus e à libertação dos nossos irmãos? Temos consciência de que, ao escolher este caminho, estamos a gerar vida nova, para nós e para os nossos irmãos?
De acordo com os critérios que presidem à construção do nosso mundo, os grandes “ganhadores” não são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, com humildade e simplicidade, mas são os que enfrentam o mundo com agressividade, com autossuficiência e fazem por ser os melhores, mesmo que isso signifique não olhar a meios para passar à frente dos outros. Como pode um cristão conviver com estes valores?
Paulo tem consciência de que está a pedir aos seus cristãos algo realmente difícil; mas é algo que é fundamental, à luz do exemplo de Cristo. Também a nós é pedido, nestes últimos dias antes da Páscoa, um passo em frente neste difícil caminho da humildade, do serviço, do amor:
Os acontecimentos que, nesta semana, vamos celebrar garantem-nos que o caminho do dom da vida não é um caminho de “perdedores” e fracassados: o caminho do dom da vida conduz ao sepulcro vazio da manhã de Páscoa, à ressurreição. É um caminho que garante a vitória e a vida plena.